Nos dias atuais, percebe-se que muitas instituições educacionais inserem a criança que
apresenta alguma limitação sem ter a preocupação de compreendê-la de um modo
global, levando em conta não apenas a deficiência, como também o contexto que a
criança traz de casa: sua forma de aprendizagem, o contexto familiar, a causa
da sua não-alfabetização, seus anseios, seus conhecimentos empíricos, dentre
outras variáveis importantes para seu pleno desenvolvimento no processo de
ensino e aprendizagem.
Quando
esta situação ocorre, entendemos que não está acontecendo de fato a inclusão necessária
desta criança pois, para que haja realmente a inclusão, devemos compreender e
valorizar o todo, sem rotular e enxergar somente a deficiência, pois nada ajudarão
em seu desenvolvimento intelectual e na aceitação dentro do ambiente escolar.
Diante
desta reflexão, cabem algumas perguntas: como fazer a legislação que trata da
Educação Especial ser cumprida em sua plenitude, se muitas instituições ainda
acreditam num único modelo de aluno, sem deficiência, com um pleno aprendizado,
e de certa forma desprezam as deficiências, sem se informarem de forma correta
sobre elas? Quando a escola trabalha desta forma, está agindo exatamente como
Palomar, o personagem do texto de Calvino.
No começo
da narrativa, Palomar cria um modelo em sua mente, para gerir sua vida, nas
diversas situações. Ele percebeu que tal modelo, como idealizado, não contemplava
todos os casos vivenciados, porque quando aplicado, surgiam novas situações que
não condiziam com o modelo preestabelecido. A partir de então, percebeu que
deveria mudar sua metodologia de trabalho, partindo de uma pesquisa e do
levantamento idiossincrático de informações para a prática. Consequentemente,
foram surgindo novos modelos, cuja metodologia foi modificada para atender
novas situações que não haviam sido previstas na primeira análise. Com novas
pesquisas, passou também a combinar modelos entre si, sempre buscando aplicar
aquele que fosse melhor adaptável à realidade pesquisada, obtendo assim
melhores resultados.
Neste
sentido, as principais ideias que podemos relacionar ao AEE são os modelos
preestabelecidos, em contraponto à pesquisa.
A
primeira ideia de Palomar é considerada equivocada, pois não existem estudos de
caso rigorosamente iguais e, tampouco, um mesmo plano de AEE pode ser aplicado
da mesma forma a duas crianças que possuem a mesma patologia clínica. Cada uma
possui aspectos peculiares, inerentes a si, e que a diferenciam de outros casos
à primeira vista considerados semelhantes.
Em segundo
lugar, para se elaborar um estudo de caso, devemos levar em consideração a
pesquisa e os parâmetros idiossincráticos, valorizando as habilidades dos indivíduos
envolvidos, para só depois montarmos um modelo de planejamento que contemplará
os anseios do educando.
Palomar
percebeu que, para alcançar o objetivo desejado, deveria realizar pesquisas e
levantamento de dados e hipóteses para, a partir daí, elaborar um plano de
trabalho. Esta ideia é cabível ao AEE, pois o professor especialista deve ter
em mente que, para elaborar um estudo de caso, precisa lançar mão do referencial
teórico disponível, a fim de formular um plano fidedigno e exequível, sem
esquecer de levar em consideração o contexto onde o aluno está inserido.
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