quinta-feira, 13 de março de 2014

Aspectos Importantes da Educação de Pessoas com Surdez

Durante muitos anos, a comunidade surda foi excluída do processo educacional em nosso país, não só pela falta de profissionais capacitados na área, como também pela concepção ultraprotetora dos pais de pessoas com surdez, que as isolavam dentro de casa, por não as acharem em condições de ser inseridas nas escolas da época.
Com os primeiros estudos na área do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o desenvolvimento da Nova Política de Educação Inclusiva, foram tecidos os direcionamentos para a criação de uma nova imagem de homem, sociedade, cultura e linguagem, respeitando todas as suas potencialidades e diferenças, ressaltando que cada ser humano é único e está em permanente construção (Damázio, 2010, p. 47).

Aprendeu-se que a sociedade não pode, em hipótese alguma, segregar as pessoas com deficiência, pois elas mesmas possuem habilidades que, se trabalhadas, transformá-las-ão em estudantes e profissionais capazes de desenvolver quaisquer atividades que lhes sejam propostas, desde que sejam educados por meio de práticas pedagógicas que possibilitem o pleno desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, psicológicas e sociais.
                                                  Este tipo de cena não pode ocorrer

A escola, enquanto local da aquisição de conhecimentos, tem a obrigatoriedade de (re)modelar seu currículo de maneira a trabalhar a inclusão social, não como uma prática avulsa, mas integrada ao contexto pedagógico e interdisciplinar trabalhado no ambiente escolar. Não se pode enxergar a pessoa com surdez como “estrangeira” dentro de seu próprio país, trabalhando a Língua Portuguesa em detrimento da Libras. Ambas devem ser vistas integralmente e conjuntamente, a fim de permitir à PS uma apreensão maior de conhecimento. A Libras deve receber o respeito e os incentivos que lhes são devidos, por possibilitar ao surdo um aprendizado bilíngue que, sem ela, não existiria.
Mesmo com todos os avanços na educação de pessoas com surdez, ainda existem barreiras que precisam ser vencidas. Uma delas (e talvez esta seja o empecilho mais forte) é o bimodalismo, que impede de serem levadas em consideração uma série de variáveis, importantes neste processo de ensino e aprendizagem, como considerar as pessoas em seus diversos graus de surdez e/ou com parentes na mesma situação. Com a perspectiva inclusiva, várias vitórias foram alcançadas e paradigmas foram quebrados.
É sabido que ainda há muitos pontos a ser revistos e analisados para a plena legitimação da abordagem bilíngue em todo o país, conforme preconiza o decreto nº. 5626, de 05 de dezembro de 2005, que determina o direito de uma educação que garanta a formação da pessoa com surdez, sendo ela instruída tanto na Libras quanto em Língua Portuguesa.
O Atendimento Educacional Especializado para Pessoas com Surdez (AEE PS) estabelece como começo das atividades o processo de compreensão e reconhecimento do potencial e das capacidades de cada ser humano, observando seu pleno desenvolvimento, e a sua aprendizagem, respeitando as diferenças de cada educando.


Aqui, o conhecimento deve ser revisto como várias relações interligadas, como instrumento de interlocução e diálogo entre os diferentes personagens que fazem a Educação Especial acontecer. Para isto, é necessária uma mudança radical no método de ensino e planejamento de aulas, a fim de contemplar de maneira mais abrangente o ensino das pessoas com surdez, buscando métodos, procedimentos e recursos específicos para a operacionalização a aula, de acordo com cada particularidade apresentada pelos educandos.
Desta forma, o AEE deve ser visto como um contínuo trabalho de (re)construção das experiências e vivências conceituais, sendo abordado de forma cíclica (com perguntas, análises críticas, analogias e associações realizadas entre professor e alunos). Trabalhando desta forma, o aluno desenvolve seu aprendizado, tanto na aquisição da linguagem quanto no espírito crítico, aptidões, habilidades e talentos.
Para que a educação de pessoas com surdez ocorra em sua plenitude, é necessário crer e trabalhar na estimulação dos processos perceptivos, linguísticos e cognitivos das pessoas com surdez, sem deixá-las reduzidas ao mundo surdo. Elas precisam assumir sua posição de sujeitos atuantes na sociedade onde estão inseridas. Ressaltamos que a PS não pode ser considerada, em hipótese alguma, como deficiente, mas possui perda sensorial auditiva, variável de pessoa para pessoa.

REFERÊNCIAS

DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010. p.46-57. 

DECRETO nº. 5.626, de 05 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília: Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2005.

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