Conforme Lagati (1995, p. 306), apud
Fascículo 5 – SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA (2010), a SURDOCEGUEIRA é
uma condição que apresenta outras dificuldades, além daquelas causadas pela
cegueira e pela surdez.
Partindo dessa premissa, Mc Innes
(1999), apud Fascículo 5 – SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA (2010), afirma
que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica
para favorecer a pessoa nesta situação e um sistema para dar este suporte, enquanto
DMU são aquelas deficiências associadas a outras deficiências, ou seja, pessoas
que têm mais de uma deficiência. É uma condição heterogênea que identifica
diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências
que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o
relacionamento social (MEC/SEESP, 2002).
De acordo com Maia (2011), a pessoa
que nasce com surdocegueira ou que fica surdocega não recebe as informações
sobre o que está a sua volta de maneira fidedigna, precisando assim da mediação
de comunicação para poder receber, interpretar e receber o que lhe cerca. Seu
conhecimento do mundo se faz pelo uso dos canais sensoriais proximais como:
tato, olfato, paladar, cinestésico, proprioceptivo e vestibular.
Na Deficiência Múltipla não garantimos
que todas as informações muitas vezes chegam para a pessoa de forma fidedigna,
mas ela sempre terá o apoio de um dos canais distantes (visão e audição) como
ponto de referência. Esses dois canais são responsáveis pela maior parte do
conhecimento que vamos adquirindo ao longo da vida.
Para tanto, vale ressaltar que Mc
Innes (1999), faz referência que a aprendizagem dos indivíduos com
surdocegueira é bastante limitada, já que apresentam dificuldades em observar,
compreender e imitar o comportamento dos membros da família ou de outros que
venha a entrar em contato, devido a combinações das perdas visuais e auditivas
que apresentam. Enquanto a pessoa com DMU apresenta características específicas
e lança desafios à escola e aos profissionais que com ela trabalha, no que diz
respeito a elaboração de situações de aprendizagem a ser desenvolvidas, para
que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão.
Esses alunos constituem um grupo com características específicas e peculiares
e, consequentemente, com necessidades únicas.
Com relação as necessidades
específicas das pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla, deve-se
levar em consideração que o corpo é a realidade mais imediata do ser humano,
onde ele trabalha a possibilidade de descobrir ao mundo e a si mesmo. Isto posto,
favorecer o desenvolvimento do esquema corporal da pessoa com surdocegueira ou
com deficiência múltipla é de fundamental importância.
Para que a pessoa nesta situação possa
se autoperceber e perceber o mundo que a rodeia, é necessário buscar sua verticabilidade,
o equilíbrio postural, a articulação e a harmonização dos seus movimentos; a
autonomia em deslocamentos e movimentos; o aperfeiçoamento das coordenações visomotora,
motora global e fina; e o desenvolvimento da força muscular.
As pessoas com surdocegueira e com deficiência
múltipla que não apresentam graves problemas motores precisam aprender a usar
as duas mãos, para minorar as eventuais estereotipias motoras e pela
necessidade do uso de ambas para o pleno desenvolvimento de um sistema
estruturado de comunicação.
Devido as dificuldades
fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, é comum nestas pessoas algum
tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações
recolhidas do seu entorno. Isso pode resultar em prejuízos no processo de
simbolização das experiências vividas, por acarretar carência de sentido para
as mesmas.
Prioritariamente, devem ser
disponibilizados recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada
no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como por
exemplo o gestual.
Mesmo quando a deficiência predominante
não é na área intelectual, todo trabalho com o aluno com deficiência múltipla e
com surdocegueira implica em constante interação com o meio ambiente. Este processo
interacional é prejudicado quando as informações sensoriais e a organização do
esquema corporal são deficitárias. Prever a estimulação e a organização desses
meios de interação com o mundo deve fazer parte do plano de AEE, sob pena de não
contemplar os objetivos para o atendimento de DMU e surdocegueira.
Com relação aos aspectos importantes voltados
à área da comunicação de pessoas com surdocegueira e deficiência múltipla,
nota-se uma clara divisão em dois tipos bastante diferenciados, favorecendo a eficiência
da transmissão e da interpretação: a receptiva, que ocorre quando alguém
recebe e processa a informação dada por meio de uma fonte e forma, com poucas variações;
e a expressiva, que ocorre quando um comunicador passa a informação para
outra pessoa, com inúmeras variações.
Ainda de acordo com o Fascículo V
(página 12-15), é importante ressaltar a utilização de algumas estratégias para
aquisição de comunicação por parte da pessoa com surdocegueira e deficiência múltipla.
Dentre elas, podemos citar os objetos de referência, que possuem
significados especiais, com função de substituir a palavra a qual se referem;
as caixas de antecipação, que permitem conhecer os primeiros objetos de
referência que antecipação as atividades e o conhecimento das primeiras
palavras; e o calendário, instrumento que favorece o desenvolvimento da
noção do tempo e ajuda os alunos a estabelecer e compreender rotinas, no ensino
de conceitos temporais abstratos e na ampliação do vocabulário, de acordo com
Maia et al (2008).
Uma das estratégias utilizadas para
aquisição de comunicação das pessoas com surdocegueira é a técnica
mão-sobre-mão: a mão do professor é colocada em cima da mão do aluno, de forma
a orientar o seu movimento, o professor tem o controle da situação. Uma variação
desta é a técnica mão sob mão: a mão do professor é colocada em baixo da mão do
aluno de modo a orientar o seu movimento, mas não a controlar, convida a pessoa
com deficiência a explorar com segurança.
Já
as estratégias para aquisição de comunicação utilizadas pelas pessoas com
D.M.U, muitas vezes acontecem através de um mediador. Todas as interações de
comunicação e atividades de aprendizagem devem respeitar a individualidade e a
dignidade de cada pessoa com deficiência múltipla, principalmente aquelas que
possuem como característica a necessidade de ter alguém que possa mediar seu
contato com o meio. Desta forma ocorrerá o estabelecimento de códigos
comunicativos entre o deficiente múltiplo e o receptor. Esse mediador terá a
responsabilidade de ampliar o conhecimento do mundo ao redor dessa pessoa,
visando a lhe proporcionar autonomia e independência.
Concluindo, todas
as pessoas se comunicam, ainda que em diferentes níveis de simbolização e com
formas de comunicação diversas; assim, considera-se que qualquer comportamento
poderá ser uma tentativa de comunicação. Dessa maneira, é preciso estar atento
ao contexto no qual os comportamentos, as manifestações ocorrem e sua
frequência, para assim compreender melhor o que o aluno tem a intenção de
comunicar e responder.