terça-feira, 22 de abril de 2014

Diferenças entre SURDOCEGUEIRA e DMU - Semelhanças nas Estratégias de Ensino


Conforme Lagati (1995, p. 306), apud Fascículo 5 – SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA (2010), a SURDOCEGUEIRA é uma condição que apresenta outras dificuldades, além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez.

Partindo dessa premissa, Mc Innes (1999), apud Fascículo 5 – SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA (2010), afirma que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa nesta situação e um sistema para dar este suporte, enquanto DMU são aquelas deficiências associadas a outras deficiências, ou seja, pessoas que têm mais de uma deficiência. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social (MEC/SEESP, 2002). 


De acordo com Maia (2011), a pessoa que nasce com surdocegueira ou que fica surdocega não recebe as informações sobre o que está a sua volta de maneira fidedigna, precisando assim da mediação de comunicação para poder receber, interpretar e receber o que lhe cerca. Seu conhecimento do mundo se faz pelo uso dos canais sensoriais proximais como: tato, olfato, paladar, cinestésico, proprioceptivo e vestibular.
Na Deficiência Múltipla não garantimos que todas as informações muitas vezes chegam para a pessoa de forma fidedigna, mas ela sempre terá o apoio de um dos canais distantes (visão e audição) como ponto de referência. Esses dois canais são responsáveis pela maior parte do conhecimento que vamos adquirindo ao longo da vida.
Para tanto, vale ressaltar que Mc Innes (1999), faz referência que a aprendizagem dos indivíduos com surdocegueira é bastante limitada, já que apresentam dificuldades em observar, compreender e imitar o comportamento dos membros da família ou de outros que venha a entrar em contato, devido a combinações das perdas visuais e auditivas que apresentam. Enquanto a pessoa com DMU apresenta características específicas e lança desafios à escola e aos profissionais que com ela trabalha, no que diz respeito a elaboração de situações de aprendizagem a ser desenvolvidas, para que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão. Esses alunos constituem um grupo com características específicas e peculiares e, consequentemente, com necessidades únicas.


Com relação as necessidades específicas das pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla, deve-se levar em consideração que o corpo é a realidade mais imediata do ser humano, onde ele trabalha a possibilidade de descobrir ao mundo e a si mesmo. Isto posto, favorecer o desenvolvimento do esquema corporal da pessoa com surdocegueira ou com deficiência múltipla é de fundamental importância.
Para que a pessoa nesta situação possa se autoperceber e perceber o mundo que a rodeia, é necessário buscar sua verticabilidade, o equilíbrio postural, a articulação e a harmonização dos seus movimentos; a autonomia em deslocamentos e movimentos; o aperfeiçoamento das coordenações visomotora, motora global e fina; e o desenvolvimento da força muscular.
As pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla que não apresentam graves problemas motores precisam aprender a usar as duas mãos, para minorar as eventuais estereotipias motoras e pela necessidade do uso de ambas para o pleno desenvolvimento de um sistema estruturado de comunicação.
Devido as dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, é comum nestas pessoas algum tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações recolhidas do seu entorno. Isso pode resultar em prejuízos no processo de simbolização das experiências vividas, por acarretar carência de sentido para as mesmas.
Prioritariamente, devem ser disponibilizados recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como por exemplo o gestual.
Mesmo quando a deficiência predominante não é na área intelectual, todo trabalho com o aluno com deficiência múltipla e com surdocegueira implica em constante interação com o meio ambiente. Este processo interacional é prejudicado quando as informações sensoriais e a organização do esquema corporal são deficitárias. Prever a estimulação e a organização desses meios de interação com o mundo deve fazer parte do plano de AEE, sob pena de não contemplar os objetivos para o atendimento de DMU e surdocegueira.
Com relação aos aspectos importantes voltados à área da comunicação de pessoas com surdocegueira e deficiência múltipla, nota-se uma clara divisão em dois tipos bastante diferenciados, favorecendo a eficiência da transmissão e da interpretação: a receptiva, que ocorre quando alguém recebe e processa a informação dada por meio de uma fonte e forma, com poucas variações; e a expressiva, que ocorre quando um comunicador passa a informação para outra pessoa, com inúmeras variações.
Ainda de acordo com o Fascículo V (página 12-15), é importante ressaltar a utilização de algumas estratégias para aquisição de comunicação por parte da pessoa com surdocegueira e deficiência múltipla. Dentre elas, podemos citar os objetos de referência, que possuem significados especiais, com função de substituir a palavra a qual se referem; as caixas de antecipação, que permitem conhecer os primeiros objetos de referência que antecipação as atividades e o conhecimento das primeiras palavras; e o calendário, instrumento que favorece o desenvolvimento da noção do tempo e ajuda os alunos a estabelecer e compreender rotinas, no ensino de conceitos temporais abstratos e na ampliação do vocabulário, de acordo com Maia  et al (2008).


Uma das estratégias utilizadas para aquisição de comunicação das pessoas com surdocegueira é a técnica mão-sobre-mão: a mão do professor é colocada em cima da mão do aluno, de forma a orientar o seu movimento, o professor tem o controle da situação. Uma variação desta é a técnica mão sob mão: a mão do professor é colocada em baixo da mão do aluno de modo a orientar o seu movimento, mas não a controlar, convida a pessoa com deficiência a explorar com segurança.
Já as estratégias para aquisição de comunicação utilizadas pelas pessoas com D.M.U, muitas vezes acontecem através de um mediador. Todas as interações de comunicação e atividades de aprendizagem devem respeitar a individualidade e a dignidade de cada pessoa com deficiência múltipla, principalmente aquelas que possuem como característica a necessidade de ter alguém que possa mediar seu contato com o meio. Desta forma ocorrerá o estabelecimento de códigos comunicativos entre o deficiente múltiplo e o receptor. Esse mediador terá a responsabilidade de ampliar o conhecimento do mundo ao redor dessa pessoa, visando a lhe proporcionar autonomia e independência.
Concluindo, todas as pessoas se comunicam, ainda que em diferentes níveis de simbolização e com formas de comunicação diversas; assim, considera-se que qualquer comportamento poderá ser uma tentativa de comunicação. Dessa maneira, é preciso estar atento ao contexto no qual os comportamentos, as manifestações ocorrem e sua frequência, para assim compreender melhor o que o aluno tem a intenção de comunicar e responder.